O Caminho da Glória Pérez

Sempre gostei de novelas. Sou da geração que cresceu em frente à TV. Assim, além dos programas infantis, eu via as novelas à noite juntamente com minha mãe e demais familiares.

Diariamente, de segunda a sábado era sempre a mesma coisa: à noite cada um ocupava sua poltrona ou lugar do sofá preferido na hora das novelas, principalmente as da Rede Globo.

Novela das seis, novela das sete, novela das oito.

A das dez eu normalmente não via porque era hora de criança estar na cama.

Apesar da censura que dizia "atenção senhores pais, programa proibido para menores de 10 anos", eu acompanhava tudo. Minha mãe era bem liberal em relação a muitas coisas.

À medida em que fui crescendo fui ficando mais seletiva quanto às novelas. Não via mais todas que apareciam. E de uns tempos pra cá alguns autores ganharam pontos comigo (outros perderam).

Glória Pérez costumava ser uma das minhas preferidas justamente por mostrar ao público povos e culturas diferentes, ainda que de maneira limitada e estereotipada. E ela sempre abordou assuntos polêmicos e pouco conhecidos do grande público como mãe de aluguél, transplante de coração, internet, clonagem, crianças desaparecidas, drogas, migrantes nos EUA, rodeios, etc.

Ela mostrou os hábitos dos ciganos, dos muçulmanos e agora está mostrando dos hindus. Legal! Eu sempre tive uma forte atração pela India e sua cultura. Tenho amigos Hare Krishnas, freqüento um bistrô indiano há vários anos... Tenho uma amiga que cuida do altar de Krishna e outra que faz samossas para o bistrô do qual acabo de falar. Tenho o desejo (e espero realizar) de conhecer a India e esse ano, através do orkut fiz dois amigos que nasceram e vivem na Índia.

Por isso, quando fiquei sabendo que a Glória Pérez iria escrever uma novela ambientada na Índia, fiquei superempolgada! Pensei que seria uma dessas novelas que não gosto de perder nem um capítulo!

Mas, quando vi os anúncios da novela na TV, aconteceu algo estranho: ela não me despertou o interesse esperado. Eu senti que a novela seria meio previsível, sei lá... E eu não gosto de coisas muito previsíveis! Além disso, cá pra nós, nunca fui grande fã dos atores que formam o casal protagonista (Márcio Garcia e Juliana Paes - dela menos ainda que dele). Sem querer desmerecer a dupla ou seu trabalho, mas sinceramente eles não me cativaram, embora eu reconheça que ela ficou uma perfeita hindu!

Conheço um senhor que é como um guru espiritual para muitas pessoas, (inclusive para mim, de certa forma). Ele é adepto do Bhramanismo tradicional, e não do ortodoxo praticado pelos Hare Krishnas. Ele já esteve na Índia e conheceu a fundo a cultura e religiosidade hindus. Agumas coisas na novela o desagradaram bastante, como o fato de chamarem divindades de "deuses" e colocarem os hindus como politeístas, o que segundo este senhor observou na Índia, não é verdade. "Deus é um só. Na novela eles falam 'o Deus Shiva, o Deus Ganesh' e isso não existe, eles são divindades, não deuses". É meio como os santos católicos, eu imagino. Para os hindus, inclusive os Kare Krishnas, Krishna é o Deus único, assim como para os cristãos fundamentalistas Jesus é o Deus único... Mas a novela está mostrando uma imagem equivocada!

Bom... de vez em quando eu vejo a novela. Gosto da atuação de alguns atores, especialmente dos "monstros sagrados", que merecem todo respeito. Mas não a estou acompanhando. O visual é lindo, as roupas são lindas, mas não há muito sendo mostrado sobre a Índia que eu não já não soubesse e que valesse o esforço de assistir diariamente a uma trama repetitiva como essa.

Com todo respeito à Glória Pérez, mas ela tem seguido sempre o mesmo "caminho". A trama central é sempre a de uma mocinha que ama um rapaz com o qual não pode se casar porque algo impede ou proíbe a união. Então ela se casa, sem amor com um outro cara. Se vai aprender a amar esse cara depois ou vai voltar pros braços de seu amor proíbido no final da trama, isso não vem ao caso. Fato é que foi assim com Dara e Júlio Falcão ("Explode Coração"), Jade e Lucas ("O Clone"), Sol e Tião ("América") e agora está sendo a mesma coisa com Maya e Bahuan!

As tramas paralelas também estão muito parecidas, assim como a maneira que a cultura indiana está sendo abordada é a mesma usada para as outras culturas mostradas anteriormente pela autora.

Só posso dizer que é uma pena essa novela não ter me entusiasmado. Pelo que ouço e leio a respeito da audiência, que anda baixa principalmente em Portugal, parece que não sou a única pessoa que vem achando que essa fórmula da Glória Pérez está bastante desgastada. Ela é uma escritora de muito talento, por isso torço para que ela consiga dar uma reviravolta, senão nessa novela, nas próximas que for escrever!

Acho que é hora de buscar novos caminhos...