Por que a Inteligência Artificial é tão PERIGOSA para adultos e crianças?

 

Tudo (ou quase tudo) na vida tem seu lado bom e seu lado ruim ou perigoso. Vantagens e desvantagens. Ultimamente nos acostumamos a ver diversas pessoas de todas as idades enaltecendo as maravilhas que a Inteligência Artificial pode fazer. Boa parte dos anúncios aos quais somos obrigados a assistir (ao menos por alguns segundos, antes de “pular”) em vídeos e aplicativos, são sobre como usar essa ou aquela IA para obter esse ou aquele resultado.

Vemos pessoas, muitas vezes maduras, já com mais de 30 anos, empolgadas como crianças que ganharam do “Papai Noel” aquele brinquedo com o qual sonharam o ano inteiro! A IA é isso, para uns: um brinquedinho novo e fascinante, que de repente, oferece um mundo de possibilidades que antes pareciam coisas de filme de ficção científica! Para outros ela é uma ferramenta útil de trabalho que chegou para facilitar nossas tarefas e realizar a “parte chata” enquanto nós, humanos, ficamos com a parte criativa e divertida de nossas profissões. ERA para ser assim. Mas NÃO está sendo! Infelizmente. E por culpa do próprio ser humano!

Em um livro de Inglês da minha faculdade de Letras, há um texto, escrito mais ou menos uma década atrás, que fala a respeito dos robôs e de como eles se tornariam comuns em poucos anos, para executar aquelas tarefas difíceis e até mesmo perigosas para seres humanos. Em sua maioria, trabalhos braçais, cansativos e/ou que oferecessem risco de vida. Enquanto isso, esperava-se que as pessoas de carne e osso estariam em seus escritórios, utilizando computadores e realizando trabalhos que exigem capacidade criativa, intelectual, imaginativa, mental.

Mas o que vemos hoje, com cada vez mais frequência, afetando mais e mais áreas, de maneira descontrolada e sem limite algum?

É, você deve ter respondido exatamente isso: Vemos a IA fazendo programações, dando aulas, fazendo atendimentos como terapeuta, receitando remédios, escrevendo textos e até livros inteiros e dos mais variados gêneros literários, compondo músicas, criando imagens paradas ou em movimento (vídeos), etc.

Ela deixou de ser uma ferramenta à serviço do homem e passou a ocupar o lugar dele! O desemprego já começou faz tempo! E tende a aumentar! Não só os robôs dos serviços braçais, mas também as IAs dos serviços intelectuais estão substituindo, cada vez mais, e em um ritmo assustador, a mão de obra humana! Até namorado(a) de IA já existe! 

Aburdo, não? Mas numa época em que o ser humano se infantiliza e se rende tão docilmente à artificialidade e à superficialidade, isso não é de se estranhar! Chupetas para adultos e bonecos reborns são bons exemplos dessa idiotização generalizada que vemos hoje em dia. E não é só a geração Z, não! A Y e a X também andam se rendendo a essa onda de podridão! Se você nasceu do final dos anos 60 para cá, muito provavelmente já foi, ou conhece alguém que tenha sido, contaminado por essa doença, ou (se preferir uma expressão um pouco mais suave), engolido por essa onda!

Além do problema do desemprego, que é um dos principais, e que devemos  prestar mais atenção, existe o desrespeito e a banalização da arte e do conhecimento humanos.

Um professor, um médico, um terapeuta, um engenheiro (só para citar alguns exemplos) dedica anos de sua vida aos estudos para se tornar um bom profissional. E de repente, pessoas que nunca se esforçaram para NADA na vida aparecem oferecendo serviços de IA para essas funções! E muitas pessoas, facilmente manipuláveis, batem palmas para isso, acham tudo lindo e maravilhoso, e não percebem que estão correndo sério risco de perderem seus próprios empregos para a IA! E como irão pagar as suas contas no final do mês? Como irão comer? A IA irá bancar suas despesas?

Um nutricionista que estudou muito e enfrentou muitas lutas para se tornar um profissional respeitado, depois de anos, com muita dedicação, cuidado e critério, consegue lançar seu primeiro livro. E de repente, vê que existe um outro livro vendendo muito mais que o seu! “Ah, deve ser alguém mais experiente que eu, está tudo certo”. E então, para a sua surpresa, descobre que o autor do "best-seller" é um jovem de 20 anos que nunca estudou nutrição, mas que fez um desses cursinhos de IA que são oferecidos insistentemente todos os dias! Ele abre o livro e se depara com algo assustador: o conteúdo está cheio de informações erradas e que podem colocar em perigo a vida de quem seguir suas instruções! Um livro escrito por IA! E agora? O que é ético e o que é antiético? Se esse profissional fizer uma crítica ao trabalho do jovem, e alertar as pessoas sobre os erros contidos no material avisando que foi produzido por Inteligência Artificial, uns o acusarão de estar mentindo, e outros dirão que ele é invejoso, preconceituoso, egoísta e ultrapassado! E que é “maravilhoso” ver o poder nas mãos de pessoas comuns, que não puderam estudar e blá, blá, blá! Se ele opta por se calar, estará colocando em risco a saúde e até mesmo as vidas dos leitores do tal livro! Que dilema!

Um compositor sabe que música é sentimento, é alma, é inspiração, é experiência pessoal, é entrega, é verdade... Então, de repente vê surgir uma enxurrada de músicas sem alma, todas com acordes parecidos e com letras superficiais, vagas, repetitivas, e pessoas que nem conhecem as notas musicais bradando, orgulhosas: “virei compositor, olha as músicas que eu fiz!”. Fez? Da noite pro dia, sem sentimento ou trabalho algum??? E se formos reclamar dirão: “Agora qualquer um pode compor, se você sabe, bom pra você, mas quem não sabe, tem como fazer com a IA", ou "Agora esse dom não pertence mais a 'meia-dúzia' de pessoas, não são apenas músicos e compositores que podem fazer músicas”.

A questão é: cada qual com seu talento, não? Roubar o talento dos outros é legal? Se a pessoa disser que a música, livro, poema, ilustração, vídeo, etc, foi feito por IA, ok. O problema é que a maioria não diz! E isso é SIM, antiético, desonesto e é roubo de talento alheio! A pessoa pensa que está enganando os outros, mas hoje em dia é fácil identificar o que é IA, em muitos dos casos! Portanto ela está, coitada, apenas enganando a si mesma, fingindo ter um talento que não possui e até ocupando o lugar de quem merecia e deveria estar ali.

Quem sabe construir casas? Os pedreiros.

Quem sabe fazer pães? Os padeiros.

Quem sabe cozinhar? As cozinheiras.

Já imaginaram se começassem a surgir por aí casas, pães e comidas feitos por quem não nasceu com este talento e nem estudou para isso? Como esses profissionais se sentiriam?

Pois é! Exatamente como se sentem músicos, escritores, poetas, roteiristas, desenhistas, programadores, professores, psicólogos, médicos, terapeutas, astrólogos, etc, etc, etc.

A IA deveria sim, varrer a casa, lavar e passar a roupa, arrumar a cozinha, esfregar o chão, limpar os móveis enquanto o artista cria sua arte, o professor dá suas aulas, médicos e terapeutas atendem seus clientes, escritores escrevem seus livros...

A IA deveria ser usada para auxiliar o ser humano, ajudando a organizar as coisas, fazendo planilhas, colocando listas em ordem alfabética, etc. É verdade que IA FAZ isso, mas deveria fazer SOMENTE isso. Ela deveria ser escrava do homem e não o contrário. Deveria colaborar com o homem e não substituí-lo e desempregá-lo, como tem acontecido!

Alguns dirão que esse é o preço do progresso, que é assim mesmo que funciona, e que sempre foi assim. MAS tudo tem que ter um limite, um freio, senão onde iremos parar? E aí, quando os mais fervorosos defensores da IA (principalmente pessoas preguiçosas e/ou desprovidas de talento natural) “caírem na real” será tarde demais. O próprio ser humano está aperfeiçoando as IAs e robôs e incentivando o uso desmedido dessas tecnologias para TUDO (ou quase tudo)! Ou seja, é a humanidade jogando contra ela mesma!!!

E os perigos não param por aí. São tantos que não dá para listar todos, mas os principais.

Uma pessoa que quer uma informação hoje em dia (aliás, desde o final dos anos 90!) joga sua dúvida no google. Porém, atualmente, o google fornece informações geradas por IA! E não só o google, mas várias plataformas, como a “Meta” (Facebook, Whatsapp, Instagram, Threads) também, entre outras. E o que acontece muitas das vezes? Vem informação incompleta ou totalmente errada! E o que a pessoa faz? Em vez de checar, acredita e sai espalhando a DESinformação! E aquilo logo, logo, vira uma “verdade”. Pois é: a IA, espalhando fake news, é mais nociva que a “tia do zap”!

De repente você vê numa rede social a imagem do Silvio Santos bebê, tão fofinho, mamando, com uma carinha satisfeita. Os comentários? “Nossa, como ele era lindinho!” “Que legal ver o Silvio bebê, sou fã dele!” “Resgataram essa foto de infância depois que ele faleceu, que emocionante!” Enquanto isso, o “gênio” que criou isso com IA está rindo da cara desses desavisados! Antes isso já acontecia bastante com o uso do Photoshop, as famosas “montagens”. Mas elas dão mais trabalho! Por isso agora, com a chegada da IA, essa “moda”  foi elevada a um nível estratosférico! Com a IA é mais fácil enganar os outros e isso revela outro fato assustador: o número gigantesco e crescente de vagabundos desocupados de caráter duvidoso que se divertem em fazer os outros de otários!

Ninguém sabe mais o que é real! As pessoas que se acham mais espertas (às vezes até são) duvidam de absolutamente tudo que veem. As mais ingênuas, por outro lado, acreditam em tudo, e caem facilmente até em golpes cibernéticos/virtuais (outro perigo da IA!).

Hoje em dia, se emocionar com uma imagem bonita pode ser atestado de burrice ou te tornar alvo de piadas e memes! Os vídeos mais lindos envolvendo plantas raras e até animais de todo tipo podem ser criações de IA! Por outro lado, dá raiva quando a gente conhece uma imagem, sabe que é uma obra de arte de um grande fotógrafo, ou então trata-se de uma foto antiga que já havia ido a público muito antes do surgimento da IA (coisa de 20 anos atrás, por exemplo) e aí vem algum “sabichão” debochar de você por ter feito um elogio! E ficam repetindo que é IA, quando não é, e VOCÊ SABE que NÃO É!

Sou contra controle de imprensa, mídias e redes sociais. Sou a favor da liberdade de expressão. Mas quando se trata de uma FERRAMENTA, ela deve ser usada apenas por quem sabe e se capacitou para isso, tem uma finalidade específica, útil e ética, e não irá abusar desse uso tornando-se dependente dele! Tem que haver um controle, regras, cursos pagos de média e longa duração e com certificado, ou algum tipo de regulamentação, SIM. Você não encomenda seu vestido de festa a uma costureira que só sabe fazer sacolas de pano! E não contrata um engenheiro para advogar a sua causa em um processo legal!

Quanta gente tem por aí viciada em IA?! Até crianças, que não deveriam nem mesmo ter um celular nas mãos!

Por falar em criança, um dos maiores perigos da IA também atinge os pequenos. Se o uso do celular já as afeta negativamente, com a Inteligência Artificial então, nem se fala! Pessoas de 30, 40 anos ou mais já tem sofrido com perda de pensamento crítico, de empatia e até da capacidade de tomar decisões sérias e muito pessoais sem a assistência da IA! Imagina então uma criança, desde cedo acostumada a “se aconselhar” com a IA para tudo em sua vida, inclusive para fazer seus deveres e trabalhos da escola! Que tipo de adulto ela irá se tornar? Um robô, um zumbi? Ou simplesmente um idiota sem opinião própria e cheio de carências emocionais que jamais serão supridas (pois nada o satisfará!)?

Pedófilos, estelionatários, abusadores, pilantras e bandidos também usam a IA, não nos esqueçamos disso! Ela está disponível para todos e não escolhe caráter!

Falsificação de identidade e de assinaturas, capacidade de criar imagens com os rostos das pessoas e áudios imitando suas vozes, invasão de privacidade, roubo de dados e informações pessoais... Agora qualquer um pode ser “hacker” com o uso da IA! Já pensou nisso?

E aí, vamos ficar babando com cara de bobos para cada nova “IA milagrosa” que surge nessa disputa interminável entre as “Big Techs”?! Ou vamos parar para raciocinar com a própria cabeça (enquanto ainda conseguimos, se é que todos conseguem!) e analisar em quanto as ameaças e prejuízos trazidos pela IA (e seu uso descontrolado) vem ultrapassando, cada vez mais, os benefícios (mais alardeados do que vivenciados)?

Seria bom que todo mundo fizesse essa análise sem demora! E você aí? Bora! Antes que a IA roube seu emprego, sua capacidade de pensar, criar e realizar coisas e até (a infância de) seus filhos, se é que me entende... Prefiro crer que sim,  que AINDA entende.

Que nós, ADULTOS, possamos usar a IA com ética e (muita) moderação, por necessidade e utilidade, mas não sem antes nos capacitarmos para isso, e impondo limites a nós mesmos! Porque senão, muito em breve teremos a impressão de estarmos em um filme de ficção científica ou até mesmo de um terror apocalíptico, onde o mundo é dominado por máquinas e os humanos não passam de seus escravos!