Existe um tipo de preconceito que anda muito na "moda" de uns tempos pra cá, de forma crescente, infelizmente: o preconceito contra o "meio termo", o preconceito contra a mistura.
Então, se você é bissexual, se é "bi-racial" (mulato, caboclo ou cafuzo), se tem uma posição mais central em termos de política, você tem grande chance de sofrer preconceito em dobro, ou seja, vindo de ambos os lados.
Por que tudo tem que ser uma coisa só? Por que as pessoas tem que aceitar rótulos? Por que temos que caber em caixinhas com nomes bem definidos? A história bíblica do "sim, sim, não, não" que muitos gostam de usar, NÃO é sobre isso! É sobre ter firmeza nas palavras e atitudes. E uma pessoa pode ser muito firme em se definir como bissexual, mestiça ou apolítica, sem merecer, por isso, ser chamada de "indecisa", "isentona", "em cima do muro" etc,
Mas hoje o foco do nosso texto é a questão racial e/ou étnica. Vamos falar de uma realidade que alguns grupos de pessoas procuram evitar, a realidade do nosso país:
O Brasil NÃO tem maioria NEGRA.
O Brasil NÃO tem maioria BRANCA.
O Brasil TEM maioria MESTIÇA.
Isso é fato, é indiscutível, não é questão de visão ou opinião.
E tem um outro ponto chave que eu quero abordar aqui: nessa disputa entre negros (ou pretos) e brancos, os ÍNDIOS, mais uma vez são suprimidos. Ou seja, uma nova forma de continuarmos dizimando nossos índios, que são SIM, os verdadeiros brasileiros. Eles já estavam aqui antes dos brancos chegarem e invadirem o seu território. E mais ainda, estavam aqui muito antes dos negros serem trazidos como escravos.
Vamos aos dados da mais recente pesquisa do IBGE a respeito dos grupos étnicos/raciais no Brasil:
PARDOS (mestiços de duas ou três raças entre indígenas, brancos e negros, com características físicas e/ou familiares que evidenciam essa mistura, sendo impossível encaixar-se em apenas uma "raça"): 45,3%
BRANCOS (pessoas com o fenótipo total ou predominante de características europeias e/ou ancestralidade total ou predominante dessa etnia): 43%
PRETOS/NEGROS (pessoas com o fenótipo total ou predominante de características africanas e/ou ancestralidade total ou predominante dessa etnia): 10,2%
INDÍGENAS/VERMELHOS (pessoas com o fenótipo total ou predominante de características nativo-americanas e/ou ancestralidade total ou predominante dessa etnia): 0,8%
ASIÁTICOS/AMARELOS (pessoas com o fenótipo total ou predominante de características do leste asiático e/ou ancestralidade total ou predominante dessa etnia): 0,4%
Muito bem. Vamos prestar bastante atenção nesses dados.
Considerando que os índios foram os primeiros a estar em nosso país, assim como em todo continente americano, como se explica que eles apareçam com menos de 1% neste levantamento? Isso reflete a realidade? Mesmo com o triste FATO de sua dizimação ao longo dos séculos, será mesmo que eles representam uma parte assim tão ínfima da nossa população atual? Caso contrário, onde estariam eles então?
A resposta é simples: NA MISTURA. A maioria dos que se declaram brancos nessa pesquisa tem alguma mistura, por menor que seja, de outras etnias. O mesmo ocorre com a maioria daqueles que se declaram pretos. Existem brancos puros? Sim! Especialmente no sul do Brasil e em São Paulo, onde há grande predominância desta etnia, considerando a colonização e a imigração de diversos povos, de diferentes países europeus como Portugal, Itália, Alemanha, Holanda, França, etc. Existem negros puros? Sim. É raro, mas tudo indica que eles existem, principalmente na Bahia e também quilombolas e descendentes de povos vindos da África mais recentemente.
Mas, DITO ISSO, é bem óbvio que entre brancos e negros há misturas SIM. Essas pessoas têm fenótipos e ancestralidades predominantes de uma ou outra etnia/raça e isso as impede de serem enquadradas entre os PARDOS sem que isso soe como uma mentira ou "forçação de barra". Por isso, é correto que se identifiquem com sua etnia predominante. É o meu caso. Me autodeclaro "branca" pois é esse o meu fenótipo e a grande maioria da minha ancestralidade. Soaria forçado e até hipócrita da minha parte se me declarasse "parda". Assim como seria forçado se o Neguinho da Beija-flor, por exemplo, cujos testes de ancestralidade revelam mais de 60% de origem europeia, se declarasse "branco", ou mesmo "pardo" tendo um fenótipo tão evidente da raça negra! Soaria falso, concordam? Pois bem.
Aonde eu quero chegar? Mais uma vez, nos índios! Onde eles estão?
Resposta: ENTRE OS QUE SE DECLARAM PARDOS, PRINCIPALMENTE NAS REGIÕES NORTE, NORDESTE E CENTRO-OESTE DO BRASIL.
Nessas regiões, a maioria dos pardos, tem ascendência predominantemente indígena. E muitos possuem um fenótipo bem evidenciado. Porém, por saberem da existência de mistura na família, mesmo que pequena em alguns casos, eles, ao contrário de brancos e negros, não se declaram "índios" e sim "pardos". E é isso que explica o aparente "sumiço" dos nossos nativo-brasileiros!
Citando a primeira foto que ilustra este post, enquanto pessoas com aparência semelhante à de Xuxa são e se declaram, obviamente, BRANCAS e pessoas com a aparência no estilo de Zezé Motta são e se declaram obviamente PRETAS, pessoas com características aproximadas às de Luiza Brunett, na maioria dos casos, se declaram PARDAS, mesmo com um fenótipo indígena bem evidenciado. Por que? Porque há mistura em sua ancestralidade.
POR ISSO É TOTALMENTE EQUIVOCADO SE DIZER QUE PARDOS SÃO NEGROS.
Enquanto de um lado negros buscam a valorização e o orgulho de sua raça, o resgate de dívidas históricas e até um certo "domínio" sobre as terras brasileiras, utilizando-se - e isso, muitas das vezes até de maneira inocente, apenas por questão de desinformação - de afirmações e dados que não correspondem à verdade e, de outro lado brancos tentam a todo custo não perder sua posição privilegiada na nossa sociedade, OS ÍNDIOS SÃO ESQUECIDOS, SUPRIMIDOS E "DIZIMADOS" mais uma vez!
PARDOS SÃO MESTIÇOS. E há muito "sangue indígena" nesse meio.
Pardos NÃO são negros. Temos 10% de negros (ou pretos) autodeclarados no Brasil (podendo estarem aí incluídos "não-negros" que se declaram "negros" visando cotas em faculdades, por exemplo) e isso é 10 vezes mais do que a população que se declara indígena!
E mesmo assim, vira e mexe aparece alguém em um blog, um vídeo do youtube, ou até em programas da TV afirmando que a maioria da população brasileira é negra. NÃO, NÃO É.
De novo: A MAIORIA DA POPULAÇÃO BRASILEIRA É PARDA. MULATA, CABOCLA, CAFUZA OU MISTURA DAS TRÊS RAÇAS.
45% dos brasileiros são MESTIÇOS. Os PARDOS são MESTIÇOS.
Se eles quisessem fazer parte do grupo dos negros, se declarariam como tal. Se eles quisessem fazer parte do grupo dos brancos, se declarariam como tal.
Não vamos mentir para nós mesmos, nem para os outros. Fica feio, muito feio! Mentira é sempre feio, mesmo que seja, aparentemente, "por uma boa causa" ou para reafirmar um grupo de pessoas que foi, sim, muito injustiçado, que sofreu horrores, que viveu um inferno na época da escravidão e depois sentiu (e às vezes ainda sente) na pele o gosto amargo do preconceito e da discriminação racial.
Uma frase que diz TUDO:
"Tenho o direito de ser igual quando a diferença me inferioriza. Tenho o direito de ser diferente quando a igualdade me descaracteriza"
O radicalismo é perigoso. O extremismo é danoso. Não vamos mais nos separar. Cada qual deve ser valorizado tal qual é: preto, branco, índio, asiático (ou oriental), MESTIÇO (pardo para o IBGE)... Sem preconceitos, sem privilégios e sem vitimização também. Que não se tente pagar preconceito com preconceito, ódio com ódio, violência com violência. Porque se for assim, essa disputa nunca terá fim!
Se tem alguém que pode se dizer "dono do Brasil" esse alguém é o ÍNDIO. E só ele! Ou melhor, ELES, esse POVO tão massacrado, ignorado, suprimido, injustiçado, incompreendido, dizimado!
Não estamos nos Estados Unidos, onde tudo é muito separado e os nativos formam um grupo à parte, à margem da sociedade, e quase não se misturam com brancos e negros. Lá, a maior mistura (e ainda assim é absurdamente menor que no Brasil) é entre os "black" e os "white", mas só recentemente - e graças à sabedoria do ex-presidente Barack Obama - é que eles começaram a aceitar e usar o termo "biracial". Anteriormente (e ainda há quem leve isso à risca, em pleno século XXI) bastava ter "uma gota de sangue negro" para que a pessoa fosse considerada negra. Isso era uma manifestação do racismo e da segregação que existia por lá até meados do século passado. E isso valia também para qualquer outra "mistura". Mesmo tendo "maioria de sangue branco" a pessoa não era aceita como branca, se tivesse, por exemplo, um avô indígena ou oriental. Essas eram as "pessoas de cor". Um ideia absurda e ultrapassada, afinal, branco também é uma cor. Portanto, somos todos "pessoas de cor"!
Não se afirma uma raça, uma etnia, uma cultura, uma religião, uma história, uma nação, um grupo de pessoas (seja lá o que for!) suprimindo outras raças, etnias, culturas, religiões, histórias, nações, grupos...
Nosso Brasil é lindo como é. É único! E isso se deve à mistura! Nosso país mestiço precisa ser aceito como tal! A mistura é linda e precisa ser ACEITA. Por que ela aconteceu? Não importa! "Quiseram embranquecer a raça negra". Ok, mas se for olhar por esse lado, também "enegreceram a raça branca", certo? Vamos parar com isso! Nós valorizamos tanto os cachorros e gatos vira-latas e ficamos brigando por pureza de raças e etnias humanas?! Que sentido há nisso? E aí vem um grande presidente de uma das maiores nações do mundo e diz "sou um vira-lata" e com muito orgulho. Somos o que somos. Valorizemos quem somos. Você é pura-raça, puro-sangue (seja negro, branco, indígena ou amarelo)? Bom pra você! Se orgulhe disso sim, mas sem diminuir os outros! Mas se você é MESTIÇO (pardo), se orgulhe disso também! Valorize cada lado da sua ancestralidade sem ignorar ou menosprezar qualquer uma delas. Você é o que é.
Eu sou o que sou: branca/europeia por parte da minha mãe, e de predominância branca/europeia, mas com misturas, por parte do meu pai (um avô com traços asiáticos, uma bisavó indígena e uma tetravó negra). Que bom que sou assim. Que bom que outros são diferentes de mim. Cada um do seu jeito, cada um com seu valor! Ninguém melhor ou pior, apenas diferentes. E não lutamos tanto pelo respeito às diferenças? Pois então! Não basta pregar sem praticar! Não "vale tudo" em nome de uma militância que favorece apenas um lado e atropela o outro (ou outros).
Somos todos A RAÇA HUMANA e mais ainda, colocando de lado o "especismo" que exclui nossos irmãos animais, somos todos "A RAÇA VIVENTE DO PLANETA TERRA".
Cada qual é como é, e tem o direito de se amar como é. Que possamos viver e compartilhar em paz um mundo com as mesmas oportunidades, e sem disputas, preconceitos, privilégios ou "vitimismos"! Está em nossas mãos construir esse novo mundo, essa nova realidade!
Por um 2024 sem ódios! Se a gente quiser, a gente consegue!
FELIZ ANO NOVO A TODOS!
Nós precisamos e merecemos!
PAZ & AMOR, em todas as cores!!!