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segunda-feira, 22 de agosto de 2011

A Confusão das Palavras

Moranga (com camarão)

Abóbora bahiana (frequentemente confundida com a moranga)

Batata Barôa (a "mandioquinha" dos paulistas)

Mandioca/Aipim/Macaxeira

Caricatura do Mussum -  um "inventador" de palavras!


Dia desses uma amiga me perguntou se eu queria que ela me trouxesse algo da rua e eu pedi a ela que trouxesse uma moranga pra rechear com camarão. Pois não é que ela me apareceu aqui com uma abóbora bahiana da casca dura? Não gosto muito dessa abóbora, nem da japonesa. Elas são amareladas, doces demais e meio "esfiapentas". Não gosto de nada muito "esfiapento". Não é à tôa que a única fruta que não consigo comer de jeito nenhum é a manga.

O que eu chamo de "moranga" é uma abóbora arredondada e achatada, cheia de "curvinhas" e com a casca cor-de-laranja (ou cor-de-abóbora - rsrs), parecida com uma pitanga gigante. É ela que é vendida nos mercados como "abóbora moranga". Mas deveria se chamar (abóbora pitanga"). Na Internet constatei que eu estava certa, essa é a abóbora que se usa pra rechear com camarão. A verdadeira moranga.

Mas minha amiga, que é de Paraíba do Sul/RJ, disse que sempre conheceu essa abóbora de casca verde-escura e dura por "moranga". Eu disse: "o que ela tem de moranga? A outra é vermelhinha por dentro e isso justifica o nome. Essa que você trouxe é verde por fora e amarela por dentro." Mas percebi que no mercadinho do meu bairro onde ela comprara a "moranga-não-moranga" essa abóbora também era conhecida pela vendedora como "moranga"! Bom... então não é uma questão regional.

Interessante isso dentro de uma mesma cidade. Quando lidamos com obras, reformas da casa e tal, nos deparamos muito com isso. As peças e materiais sempre tem vários nomes. Por exemplo: aquela armação que fica em volta das portas de mandeira. Há quem a chame de "guarnição", há quem a chame de "portal" e ainda há um terceiro nome que eu não me lembro agora. A parte dos canos de água que tem uma dobra no meio também tem vários nomes: "joelho", "cotovelo", "curva"... Cada pedreiro, cada vendedor de loja, cada consumidor fala de um jeito diferente.

Mas há também situações em que o "problema" são os dialetos regionais, as diferentes palavras. Uma amiga minha leu uma receita em uma revista: "Purê de mandioquinha". A revista era de São Paulo, mas ela nem pensou nisso. Mandou a empregada comprar mandioca e fez o purê do jeito que estava na receita (na qual não havia fotos). Não gostou muito do resultado mas comeu. Tempos depois, vendo um programa na TV descobriu que a "mandioquinha" que estava sendo citada ali não é a mandioca também conhecida como aipim. Essa "mandioquinha" dos paulistas é aquilo que conhecemos aqui em JF por "batata barôa" (o que aliás, eu detesto!). Descobri também que há localidades em que essa batata é conhecida também por "cenoura amarela".

Uma vez, no meu antigo bairro, um paulista que estava à passeio foi à padaria e pediu uma "bengala". O vendedor olhou pra cara dele assustado e disse: "mas aqui é uma padaria, não trabalhamos com madeira". rsrsrsrs O paulista queria o que conhecemos por uma "bisnaga" de pão. Hoje em dia quase não se vende mais aquilo porque o famoso pãozinho praticamente substituiu as antigas bisnagonas e bisnaguinhas.

Uma coisa parecida aconteceu alguns anos atrás no Rio de Janeiro. Uma amiga minha gaúcha foi passar uns dias de suas férias no Rio de Janeiro na casa de outra amiga nossa. Eu também fui lá e estive com ela, quando ela me contou o que tinha acontecido uns dias atrás: ela foi à padaria a pedido da amiga. Chegando lá pediu um "cassetinho". O vendedor começou a rir e não entendeu nada. rsrsrs É que os gaúchos chamam assim o famoso pãozinho do qual já falei no parágrafo anterior.

Quando eu era criança, novamente no meu antigo bairro (Benfica) uma menina de São Paulo que passava as férias sempre na casa dos parentes aqui em JF disse "pisei na póça!". E nós achando que ela estava falando errado, a corrigíamos: "é poça e não 'póça"! Mas ela insistia em dizer que ela era quem estava certa, porque aprendeu assim na escola. E ela não estava errada porque em SP essa palavra é pronunciada assim mesmo, como se tivesse um acento agudo no "o". Já a letra "o", eles falam "ô" enquanto nós (do resto do Brasil - exceto SP, e alguns locais de MT e do sul) falamos "ó"; e a letra "e" eles falam "ê" enquanto nós falamos "é".

Não esqueço também de uma frase dita por uma prima paulista que veio de férias. Estávamos brincando e ela quis brincar com água e de repente falou: "enche a bexiga". Eu e minhas amigas nos olhamos assustadas. Por vim ela apareceu com uma bola de soprar, era aquilo que ela queria encher com água, e não ficar segurando a urina! rsrsrsrs

No velório da minha avó todos estavam preocupados com a minha mãe. Ela não parava um minuto e não tinha comido nada. Uma prima minha, de Belo Horizonte me chamou no portão quando eu chegava em casa, vindo da capela. "A sua mãe precisa comer um trem", ela disse. Eu olhei bem dentro dos olhos azuis dela e tive que segurar a risada porque eu tenho a mania de dar crises de riso nas horas mais impróprias principalmente porque imagino a cena mencionada. Me veio na mesma hora a imagem da minha mãe comendo um trem (trem mesmo, com locomotiva e vagões)! rsrsrsrs

Ok, um "trem" pode ser qualquer coisa (principalmente pros mineiros), mas geralmente coisa ruim. Ou então algo dito por brincadeira. Eu nunca na minha vida tinha ouvido a expressão "comer um trem". E ela falou tão séria, num momento sério como aquele. Me espantei mesmo. Estaria ela brincando num momento daquele? Acho que a minha prima percebeu meu espanto e quando eu a encarei e disse: "O quêêê???". Ela emendou: "arruma alguma coisa pra sua mãe comer porque ela tá há muito tempo sem comer nada". E eu: "Ah, sim... vou arrumar...".

"Comer um troço" ainda vá lá. Na minha casa falavam isso às vezes, principalmente meu tio. Mas um troço ninguém sabe o que é. É tudo e não é nada. Mas um "trem"... é impossível na vir à mente aquele veículo de transporte que um dia já representou o progresso. rsrsrs

Quando eu era criança (eu vou e volto no tempo, aqui estou de volta à infância), mudou-se pra perto de nós uma carioca que ia quase todas as noites lá pra casa e ficava vendo a novela das oito com a gente. Ela levava o neto dela, com quem eu brincava muito. Um dia ela disse que "a bica está entupida". Eu ri. "Bica???" Minha mãe me tascou um beliscão e depois me explicou que em certos locais da capital carioca "as pessoas até hoje chamam torneira de bica". Esse "até hoje" era nos anos 80. Não sei atualmente. Pelo menos os meus parentes do Rio não chamam torneira de bica. rsrs

Num papo via msn com aquela minha amiga gaúcha já citada, ela disse que ia chupar "bergamota". E eu perguntei o que era isso e ela: "uma fruta, você não conhece?". E eu disse que não. Depois descobri que é um tipo de tangerina conhecida também por mexerica, pocam, mocoti... (varia de acordo com o tamanho da tangerina).

São casos e mais casos... As palavras podem mudar de pessoa pra pessoa, bairro pra bairro, cidade pra cidade, estado pra estado, região pra região do país...

Pipa, aquele brinquedo de papél também conhecido como papagaio (quando em formato de losango) ou pandorga (no sul do Brasil) em Niterói/RJ é chamado de cafifa! Mas atravessando a ponte e chegando à capital carioca, volta a ser pipa de novo. rsrsrs

É... o Brasil tem dessas coisas. Mas não é só no Brasil. Nos EUA, nos paises da europa e ao que tudo indica, de todo o mundo, as palavras, dialetos, expressões, gírias e sotaques também mudam de acordo com o local, com a cultura, com os hábitos, com  a escolaridade, com a época, com a geração, etc.

Até podemos inventar palavras e criar nosso próprio dicionário! Há alguns especialistas nisso. Quem não lembra do Mussum e seu "mé"? (Mé = cachaça). Não sei de onde ele tirou isso mas na época pegou, "Cacildis"!

E ainda há a linguagem dos sinais dos surdos-mudos, o braile dos cegos... E os gestos que a gente faz todos os dias e que podem significar a mesma coisa em vários países e coisas totalemte diferentes em outros.

Por falar nisso, meu avô português que eu não cheguei a conhecer, certa vez disse a uma adolescente amiga da familia: "entre, rapariga". A menina entrou chorando e depois reclamou com a minha avó que o meu avô a tinha xingado. rsrsrsrs Depois tudo ficou explicado, claro. É que para os portugueses "rapariga" é moça, mocinha, jovem. Mas pra nós brasileiros, isso era muito usado no passado como sinônimo de prostituta.

Palavras, palavras, palavras. São elas que nos confundem. Mas também é graças a elas que conseguimos desfazer qualquer mal entendido que elas possam causar. rsrsrs

Até mais!!!